Pedro, de 10 anos, não tirava os olhos da mãe. No enterro de seu irmão, Paulo Henrique, três anos mais velho, vítima de uma bala perdida no Complexo do Alemão, o menino tentava acalmá-la. A preocupação fez o choro parar. “Calma, mãe, calma. Por favor, levanta”, sussurrava. A cuidadora Michele de Oliveira, de 33 anos, desmaiou duas vezes durante o sepultamento do filho, quarta-feira à tarde, no Cemitério de Inhaúma. Cerca de 200 amigos e parentes do adolescente estavam presentes.
Paulo Henrique foi baleado na barriga, na segunda-feira, durante um tiroteio entre traficantes e policiais militares. No confronto, um policial do Bope também ficou ferido. Um estudo feito pela própria Polícia Militar mostra que em cinco anos, os confrontos em áreas com UPPs, como o Alemão, aumentaram 13.746%, passando de 13 em 2011 para 1.555 em 2016.
Em apenas três UPPs do Complexo do Alemão — Nova Brasília, Fazendinha e Alemão — foram registrados 245 confrontos em 2016 e 2017.
As trocas de tiros no Complexo do Alemão se intensificaram ainda mais desde a última sexta-feira, quando a PM começou a instalar uma cabine blindada na Favela Nova Brasília. Nove pessoas já foram baleadas durante os tiroteios — três delas morreram.
Revoltada, a avó materna de Paulo Henrique, Marinete Martins, de 61 anos, pediu a retirada da cabine:
— No sábado foram dois enterros (de moradores do Alemão): o do Gustavo e do Bruno. Hoje, é o do Paulo. Amanhã, de quem vai ser? Essa violência tem que acabar. Desde que colocaram a cabine lá, os moradores estão sofrendo. A cabine tem que ser retirada — lamentou Marinete.
Mais policiais e suspeitos baleados
A escalada dos confrontos nas favelas com UPPs, como mostra o estudo feito pela Polícia Militar, gera também um crescimento de PMs e suspeitos baleados e mortos. Em 2011, os treze confrontos que ocorreram em áreas com UPPs terminaram com dois suspeitos mortos e um ferido, e nenhum PM baleado ou morto. Já no ano passado, 11 policiais morreram e 120 ficaram feridos, 65 suspeitos morreram e 67 ficaram feridos.
Mesmo com o aumento dos tiroteios entre PMs e bandidos, os confrontos em UPP cresceram ainda mais: em 2011, eles representavam 1,2% do total de trocas de tiros(13 em 1.043); no ano passado, já eram 37% do total (1.555 em 4.212).
O estudo da PM revelou ainda que entre 2011 e 2016, foram 13.494 tiroteios entre policiais e criminosos no estado do Rio. Do total de 5.132 pessoas alvejadas neste período, 2.782 não resistiram aos ferimentos — um índice de letalidade de 54%. No mesmo intervalo, 1.141 PMs se feriram e outros 93 morreram em confrontos.
Fonte: jornal “Extra”
No Comment! Be the first one.