Rating foi de “BBB” para “BBB-“, mantendo grau de investimento
Menos de duas semanas depois de uma reunião entre representantes da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a agência anunciou nesta segunda-feira o rebaixamento do rating soberano do Brasil, de BBB para BBB-, encerrando uma década de elevações da nota brasileira e surpreendendo o governo e o mercado, que não esperavam tal medida antes das eleições presidenciais. A nota deixa o Brasil ainda com grau de investimento, mas no menor patamar desta categoria.
A agência citou o débil crescimento econômico e uma política fiscal expansionista, que vem elevando os níveis de endividamento do país. Além do fraco crescimento, a S&P cita sinais mistos do governo, com efeitos nocivos para o quadro fiscal e a credibilidade da política econômica. A agência calcula que o crescimento do Brasil cairá de 2,3%, no ano passado, para 1,8% em 2014. Apesar disso, a S&P manteve a perspectiva estável para o rating brasileiro.
Apesar da ameaça feita em 2013 pela agência, quando colocou o rating em perspectiva negativa, o governo brasileiro não esperava que o rebaixamento ocorresse no primeiro trimestre. O corte pegou Ministério da Fazenda, Banco Central e Palácio do Planalto de surpresa. Nos bastidores, o sentimento era de incredulidade:
— Deixou todo o governo sem reação porque a expetativa era que a queda viesse mais tarde — disse uma fonte do governo.
O rebaixamento complica ainda mais a conjuntura turbulenta pré-campanha que já tem polêmica com PMDB, denúncias que envolvem a Petrobras e alta de juros. Para os técnicos, esta terça-feira será um dia crucial para sentir os estragos feitos pela decisão da S&P. O Banco Central (BC) acompanhará de perto cada reação do mercado financeiro para se programar para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem.
O governo criticou duramente a decisão da S&P. Por meio de nota, o Ministério da Fazenda afirmou que a mudança na avaliação do país é “inconsistente com as condições da economia” e “contraditória com a solidez e os fundamentos do Brasil”.
“Sinais misturados na política brasileira”
Por sua vez, a S&P afirmou que “o rebaixamento reflete uma combinação de afrouxamento fiscal, o prospecto de execução fiscal vai continuar fraco em meio a um crescimento moderado nos próximos anos, uma capacidade restrita de ajuste da política fiscal antes das eleições presidenciais e alguma debilidade nas contas externas brasileiras. Esses fatores revelam o pouco espaço de manobra do governo em face de choques externos.”
— Não houve um motivo específico para a mudança agora. Vemos sinais misturados na política brasileira e estes sinais não devem mudar antes das eleições. A S&P está confortável com o grau de investimento do Brasil. A perspectiva estável mostra a força institucional do Brasil, e não vemos uma mudança desta perspectiva imediatamente — disse, por sua vez, a economista da S&P Lisa Schineller, em teleconferência na noite de segunda-feira, após o anúncio, citando ainda a crise energética do país.
Analistas já esperavam o corte na nota do país, mas previam que ele só viesse a acontecer no segundo trimestre ou mesmo depois das eleições. O rebaixamento do rating do Brasil deu novo discurso à oposição, que já vinha criticando duramente o governo pelas revelações mais recentes sobre a Petrobras.
Fonte: O Globo
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